domingo, 28 de junho de 2009

Terceira tentativa no atelier de escrita teatral

- Não gostei nada de ver aquela criatura a olhar para ti há pouco, quando vínhamos do café!!!
- Não reparei em nada!
- Mas eu reparei e não gostei! Não tinha nada que estar a olhar para ti!
- Se calhar percebeste mal.
- Essas coisas sentem-se. Estava mesmo a olhar para ti!
- Por que havia de ter assim tanta vontade de olhar para mim? Nem sequer sou especialmente atraente!!!
- Não digas isso! Ofendes-me! Eu estou contigo, logo tu és uma pessoa atraente!
- Essa não percebi mesmo!
- É fácil! Eu sou uma pessoa de bom gosto, logo quem está comigo tem de ter algo de especial.
- Agora é que me zango mesmo. Quem está contigo só vale em função de ti? Se estiver com outra pessoa já não tem o mesmo valor?
- Já me perdi!
- É simples. Acabas de dizer que eu tenho de ter alguma coisa de especial, porque tu me escolheste. Portanto, o eu ser especial depende de ti, não de mim. O que eu sou não interessa. Eu chamo a isso ser possessivo e eu não gosto de gente possessiva. É só isso.
- Ai o que para aí vai! Tu pensas demais e isso estraga-te a vida.
- Talvez! Mas é uma opção que eu fiz conscientemente! Tenho de viver com ela e ser coerente com ela, enquanto entender que é a opção correcta.
- Tu é que sabes da tua vida.
- Podias começar a pensar em valorizar menos os outros em função de ti. Às vezes, interrogo-me sobre se tu gostas mesmo de mim, ou se gostas apenas do que eu gosto de ti.
- Agora é que me deixaste mesmo de boca aberta. Troca lá isso por miúdos.
- Fica para outro dia. Vai pensando no que eu te disse e lembra-te de que não podemos nem devemos centrar tudo em nós.
- Já agora que estamos nessa, aproveito para te dizer que não gostei nada da tua reacção naquele dia em que olharam para mim de forma insistente.
- Porquê?
- Tu não te importaste nada!
- Não é verdade. Se queres que te diga, subiu-me ao cérebro uma fúria devastadora capaz de derrubar tudo.
- Então por que não a manifestaste?
- Porque isso é ser possessivo. Ninguém é dono de ninguém e as pessoas só estão juntas enquanto ambas querem.
- Não percebo mesmo!
- Pensa um bocado e sai da tua “casca”! Vais ver que, se te esforçares, acabas por perceber. Não quero ter dono, nem dominar. Quero uma companhia, não uma propriedade!

2 comentários:

CAIS DO PARAÍSO disse...

Bravo!
Isto é um diálogo com muiiito substrato. Dá que pensar.
Mas não pude deixar de sentir um certo 'deja vu'... Já aqui vi uma história do TB centrada neste tema... :-)
Pela tua insistência vejo que este é um assunto importante para ti.
EM

csa disse...

Não é 1 história. São três!!!
É muito importante mesmo!
Mas acho que deixei alguns colegas do atelier um bocado baralhados das ideias.
Hehe! :)