quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Do preconceito



Venho aqui desabafar por causa de afirmações que ouvi hoje, em conferências de um congresso sobre a leitura a que estou a assistir.
Fiquei atónita com a capacidade de sobrevivência de alguns preconceitos.
O primeiro diz respeito à ideia de que o único tipo de texto digno de ser estudado no âmbito das actividades de leitura nas escolas é o texto literário. Ainda por cima, acompanhado de uma reflexão sobre o facto de não se estudar textos desta natureza.
Será? Afinal os programas de Língua Portuguesa do Ensino Secundário e até o do 9º Ano de Escolaridade e os manuais a eles associados quase só contemplam textos literários e os professores não se sentem à vontade para abordar os outros, porque não se sentem preparados para o fazer.
E, assim, os adolescentes de 2009 continuam a estudar literatura mais ou menos como eu a estudei há 30 anos atrás e a não saber ler nem escrever textos indispensáveis na vida quotidiana, ao mesmo tempo que não ficam a saber grande coisa sobre a literatura, nem adquirem qualquer gosto por esse tipo de leitura.
E aqui chego a outro preconceito.
Os jovens de hoje não lêem nada, porque são clientes habituais das novas formas de comunicação, de natureza audiovisual.
Será mesmo?
Para já, as novas formas de comunicação (sms, mail, chat, fóruns, internet, blogs, hi5,...) passam todas pela leitura e pela escrita. E mesmo os documentos audiovisuais (por exemplo, vídeos musicais que aparecem no youtube) contêm elementos escritos (por exemplo,a letra da canção a que o vídeo se refere).
E os jovens não lêem nada? E então o que fazem dos blogs consagrados a literatura de todos os géneros e à difusão de textos dessa natureza? Provavelmente não contam, porque podem contemplar literatura negra e fantástica ou FC, em vez de se referirem apenas aos ditos "clássicos da literatura", que, no seu tempo, também foram perseguidos... por serem má literatura.
E, para terminar esta diatribe, fica a referência a um preconceito que me enerva profundamente: quando o texto tem imagens, é muito fácil de ler e, portanto, apenas adequado a crianças incapazes e analfabetas. Com menção especial à banda desenhada.
Pois é! Mas eu conheço adultos que não são capazes de ler e compreender uma BD e histórias aos quadradinhos que são tão difíceis de ler como os famosos clássicos.
Até eu, nas minhas horas vagas, faço "desenhos toscos" que nem sempre são assim tão fáceis de interpretar.
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!

2 comentários:

Unknown disse...

Concordo plenamente com a sua irritação. Há pessoas que não conseguem ser "omnívoras" em termos de leitura e de estilos de literatura. Então se a presença de imagens e texto (como no caso da BD), faz com que o conjunto possa ser facilmente entendido, e se isso é apanágio de atrasados mentais, então por essa ordem de ideias, o que dizer do cinema, que para além do texto, não tem apenas imagens, mas ainda por cima as imagens têm de se mexer para que as compreendamos. Sinceramente já não há pachorra para tanta má vontade em torno da BD.

Por outro lado, se a comunicação social fizesse a mesma publicidade a alguns trabalhos de BD como faz a alguma literatura light (que vende milhares), também a BD venderia mais e passaria a ser encarada com outros olhos. É que existem obras de BD que têm mais conteúdo numa única página, do que certos livros da dita literatura light.

csa disse...

Assino por baixo.
Foi o que eu disse na livraria de BD do meu bairro, quando lhes relatei estes horrores vindos de pessoas que, se calhar, nunca pegaram numa BD a sério.
Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!!!
Por isso, pus o Calvin e o Hobbes a fazer caretas. Hehe!