eheh, também gostas de desenho? Tenho alguns planos mas pouca inspiração... Mais ao menos a propósito, como gostas e conviveste de perto com isso, que tal um post sobre o processo de criação de BD's, é algo que não sei muito bem como funciona. e tenho curiosidade
Eu só conheço o processo realizado por uma só pessoa. Essencialmente, é necessário ter uma ideia, que pode ser mais ou menos complexa. Pode ser uma história completa, de extensão variável, ou apenas uma situação. Depois, há que pensar no formato que se vai adoptar. Podes usar várias pranchas ou uma prancha só ou apenas uma tira (com 4 ou 5 vinhetas). O formato seleccionado também vai depender da forma como quiseres tratar a tua ideia. Tens de decidir se precisas de texto ou não, já que a BD pode ser muda e aí a expressão fica limitada ao desenho. E, se decidires optar por texto, tens de decidir o que vais dizer com o desenho e o que fica para o texto e como vais "casar" os dois. Também tens de optar pelo preto e branco ou pela cor e, neste último caso, decidir que tipo de cor vais usar e que papel vai ela desempenha na construção do sentido da tua BD. É preciso ver se o desenho será realista (e, nesse caso, até podes usar fotos como base para o teu trabalho)ou se vai antes ser um desenho mais estilizado. E podes usar técnicas como colagens, combinação de elementos feitos à mão ou no computador, materiais diversos (lápis e tinta da china, marcadores, aguarela, guache, até uma simples esferográfica). Podes separar as vinhetas de forma nítida ou deixá-las sem limites, combiná-las de diversas formas. Recorrer a planos diversos, como num "cinema de papel". Podes usar símbolos variados para exprimir sentimentos ou reacções das personagens ou ainda para representar simbolicamente as suas acções. De momento, não me consigo lembrar de mais nada. Acho que vou convidar um amigo a fazer um post sobre este assunto, proque ele desenha e escreve argumentos, mas também trabalha com outros desenhadores e argumentistas. É o mentor da equipa dos Murmúrios.
Já agora, faço alguns comentários sobre os meus desenhos. São uma espécie de cartoon. Por isso, só têm uma imagem e retratam uma situação que eu vivi ou com a qual contactei de algum modo. também há alguns em que faço jogos de sentido. Tenho de te mostrar (quando estiverem digitalizados) o desenho que apresenta os bróculos servidos no snack da universidade a fugirem da panela diante da funcionária atónita (porque alguém comentou que tal devia ter acontecido, uma vez que estavam quase crus) ou o meu telemóvel enforcado (porque doi reparado no balcão da TMN que fica numa zona residencial de Aveiro chamada Forca, devido a ter havido lá uma em tempos). O estilo de desenho é relativamente estilizado. as personagens são simbólicas (à excepção da que me representa, que é pequena e redonda como eu, usa o cabelo curto, veste sempre calças e t-shirt ou camisola, usa sapatilhas). O uso do preto sobre fundo branco faz parte dessa estilização. Para desenhar, utilizo um marcador Futura, que andava lá por casa (a propósito, tenho de comprar um novo!) e quadradinhos de papel branco para anotar recados quando estamos ao telefone. Que requinte! Quando eu estava com o meu ex-marido, dava-lhe as minhas ideias e ele desenhava. Depois decidi que não consegui fazê-lo sozinha. E, um belo dia, no Verão passado, resolvi desenhar eu própria a minha ideia (a minha "pantera" informática) e depois continuei sempre. É uma coisa que me dá muito prazer!!!
Olá! A convite da csa, venho falar um pouco da minha experiência como BDesenhador e director de uma pequena equipa de talentosos que está a trabalhar em projectos de BD.
Para começar a BD é uma forma de comunicação, ou seja, é um modo de transmissão de uma mensagem.
Mensagem que normalmente é uma história que o narrador quer contar a um público.
E para que seja BD, independentemente da técnica utilizada (também descrita pela csa), tem que ser contada a partir de uma sequência de imagens (também designadas por vinhetas).
Daí a designação de arte sequencial.
E como qualquer forma de comunicação, tem que ser o mais clara possível para que a mensagem passe ao leitor.
Assim, é preciso ter em atenção algumas regras fundamentais.
A mais importante é o sentido de leitura das vinhetas e das caixas de texto.
No ocidente, a leitura da página de BD (chamada prancha) é da esquerda para a direita, enquanto que no oriente, a leitura é no sentido inverso.
Tendo isto em conta, podemos conduzir o olhar do leitor pela prancha até à última vinheta, deixando-o muitas vezes num cliffhanger (suspense), que o vai obrigar a querer virar a página para descobrir o deslindar da acção.
Outra regra é a ordem em que devem estar os balões, onde estão incluídos os textos dos diálogos das personagens.
o 1º balão deve pertencer à 1ª fala e assim sucessivamente. Deve ser claro para o leitor quem está a falar e porque ordem.
Tendo estas regras e outras que são apontadas na literatura específica, podemos começar a pensar em fazer BD.
A ordem normal da organização de trabalho para uma BD:
1º Ideia para a história 2º Escrita do argumento. 3º Escrita do guião (com todas as indicações e descrições de vinhetas) para o desenhador converter o texto em imagem. 4º Storyboard (esboço da prancha (muito esquemático) feito pelo desenhador (às vezes é o argumentista que faz) baseado nas indicações do argumentista). 5º Layout da prancha transformação do esboço em algo mais finalizado. 6º Finalização (depende do tipo de técnicas utilizadas, mas tomando o exemplo da BD dita mainstream acontecem as seguintes etapas:
Desenho a lápis.
Passagem por cima a caneta preta (inking).
Pintar (caso seja a cores).
Balonagem (inserção de texto).
Depois enviar para a gráfica e imprimir.
Cada uma destas tarefas pode ser realizada por uma só pessoa, ou por um grupo de especialistas(p. ex: argumentista, desenhador, "inker", pintor, balonista, etc, etc).
Eu gosto de desenhar e escrever, por isso, sou capaz de realizar uma BD de raiz sozinho.
Mas descobri recentemente que é de longe mais enriquecedor trabalhar em equipa.
1º a troca de experiências e ideias é por si uma mais valia.
2º o trabalho corre mais depressa, pois há sempre alguém que é mais eficiente numa tarefa que outro.
E assim, aposta-se na especialidade de cada um.
3º cria-se a capacidade de saber lidar e aceitar as diferentes opiniões.
Resumindo, trabalhando em grupo permite-nos crescer como pessoas e como artistas.
E como é que esse trabalho pode ser realizado?
1º Através de uma boa comunicação entre os elementos. Internet (mails, chats), telefone, reuniões físicas, tudo serve.
2º É importante ter um plano de trabalhos, distribuir tarefas, estabelecer metas a atingir e prazos a cumprir.
Para além da criação da BD em si, é necessário estabelecer contactos com o meio Bedéfilo (editores, consumidores, distribuidores, etc).
Para isso, é importante participar no máximo de eventos sobre BD realizados no país, nomeadamente, festivais de BD e exposições.
É igualmente fundamental ter boas relações com os lojistas especializados em BD, pois são eles que nos dão maior apoio nas vendas (pois muitas vezes, são nosso amigos e facilitam-nos as coisas, isto no caso da edição de autor).
Caso não haja dinheiro para edição de autor, é necessário criar um ficheiro de apresentação do projecto (bem detalhado) para enviar a uma editora.
Antes de se dar este passo, é fundamental saber qual a política editorial de cada casa, para determinar se esta vai de encontro à filosofia defendida ou expressa na BD realizada.
Há muitos mais conselhos que podem ser dados.
Deixo aqui algumas sugestões de leitura para aprofundar conhecimentos:
Caso queiram experimentar a arte digital (de longe mais barata e rápida) têm aqui uns programas de desenho grátis:
http://www.artweaver.de/index.php?en_version (este mistura algumas das capacidades do photoshop com painter IX)
http://www.gimp.org/ (outro programa gratuito para desenhar).
http://sketchup.google.com/ (este permite fazer objectos em 3D, ideal para construção de cenários como cidades).
http://www.ambientdesign.com/ (este programa é pago mas bastante barato se tivermos em atenção as maravilhas que consegue fazer. É o predilecto de muitos artistas digitais).
Sobre o post do Rui, só tenho uma coisa a dizer: Quem sabe, sabe!!! Posso acrescentar que a parte que se refere às vantagens do trabalho em equipa se aplica a qualquer contexto. O meu blog está a ficar muito mais giro, desde que começaram a aparecer por cá comentários desafiadores.
Mensagens
6 comentários:
eheh, também gostas de desenho?
Tenho alguns planos mas pouca inspiração...
Mais ao menos a propósito, como gostas e conviveste de perto com isso, que tal um post sobre o processo de criação de BD's, é algo que não sei muito bem como funciona. e tenho curiosidade
Eu só conheço o processo realizado por uma só pessoa.
Essencialmente, é necessário ter uma ideia, que pode ser mais ou menos complexa. Pode ser uma história completa, de extensão variável, ou apenas uma situação.
Depois, há que pensar no formato que se vai adoptar. Podes usar várias pranchas ou uma prancha só ou apenas uma tira (com 4 ou 5 vinhetas). O formato seleccionado também vai depender da forma como quiseres tratar a tua ideia.
Tens de decidir se precisas de texto ou não, já que a BD pode ser muda e aí a expressão fica limitada ao desenho. E, se decidires optar por texto, tens de decidir o que vais dizer com o desenho e o que fica para o texto e como vais "casar" os dois.
Também tens de optar pelo preto e branco ou pela cor e, neste último caso, decidir que tipo de cor vais usar e que papel vai ela desempenha na construção do sentido da tua BD.
É preciso ver se o desenho será realista (e, nesse caso, até podes usar fotos como base para o teu trabalho)ou se vai antes ser um desenho mais estilizado.
E podes usar técnicas como colagens, combinação de elementos feitos à mão ou no computador, materiais diversos (lápis e tinta da china, marcadores, aguarela, guache, até uma simples esferográfica).
Podes separar as vinhetas de forma nítida ou deixá-las sem limites, combiná-las de diversas formas. Recorrer a planos diversos, como num "cinema de papel".
Podes usar símbolos variados para exprimir sentimentos ou reacções das personagens ou ainda para representar simbolicamente as suas acções.
De momento, não me consigo lembrar de mais nada.
Acho que vou convidar um amigo a fazer um post sobre este assunto, proque ele desenha e escreve argumentos, mas também trabalha com outros desenhadores e argumentistas.
É o mentor da equipa dos Murmúrios.
Já agora, faço alguns comentários sobre os meus desenhos.
São uma espécie de cartoon. Por isso, só têm uma imagem e retratam uma situação que eu vivi ou com a qual contactei de algum modo.
também há alguns em que faço jogos de sentido. Tenho de te mostrar (quando estiverem digitalizados) o desenho que apresenta os bróculos servidos no snack da universidade a fugirem da panela diante da funcionária atónita (porque alguém comentou que tal devia ter acontecido, uma vez que estavam quase crus) ou o meu telemóvel enforcado (porque doi reparado no balcão da TMN que fica numa zona residencial de Aveiro chamada Forca, devido a ter havido lá uma em tempos).
O estilo de desenho é relativamente estilizado. as personagens são simbólicas (à excepção da que me representa, que é pequena e redonda como eu, usa o cabelo curto, veste sempre calças e t-shirt ou camisola, usa sapatilhas).
O uso do preto sobre fundo branco faz parte dessa estilização.
Para desenhar, utilizo um marcador Futura, que andava lá por casa (a propósito, tenho de comprar um novo!) e quadradinhos de papel branco para anotar recados quando estamos ao telefone. Que requinte!
Quando eu estava com o meu ex-marido, dava-lhe as minhas ideias e ele desenhava. Depois decidi que não consegui fazê-lo sozinha. E, um belo dia, no Verão passado, resolvi desenhar eu própria a minha ideia (a minha "pantera" informática) e depois continuei sempre.
É uma coisa que me dá muito prazer!!!
Olá! A convite da csa, venho falar um pouco da minha experiência como BDesenhador e director de uma pequena equipa de talentosos que está a trabalhar em projectos de BD.
Para começar a BD é uma forma de comunicação, ou seja, é um modo de transmissão de uma mensagem.
Mensagem que normalmente é uma história que o narrador quer contar a um público.
E para que seja BD, independentemente da técnica utilizada (também descrita pela csa), tem que ser contada a partir de uma sequência de imagens (também designadas por vinhetas).
Daí a designação de arte sequencial.
E como qualquer forma de comunicação, tem que ser o mais clara possível para que a mensagem passe ao leitor.
Assim, é preciso ter em atenção algumas regras fundamentais.
A mais importante é o sentido de leitura das vinhetas e das caixas de texto.
No ocidente, a leitura da página de BD (chamada prancha) é da esquerda para a direita, enquanto que no oriente, a leitura é no sentido inverso.
Tendo isto em conta, podemos conduzir o olhar do leitor pela prancha até à última vinheta, deixando-o muitas vezes num cliffhanger (suspense), que o vai obrigar a querer virar a página para descobrir o deslindar da acção.
Outra regra é a ordem em que devem estar os balões, onde estão incluídos os textos dos diálogos das personagens.
o 1º balão deve pertencer à 1ª fala e assim sucessivamente. Deve ser claro para o leitor quem está a falar e porque ordem.
Tendo estas regras e outras que são apontadas na literatura específica, podemos começar a pensar em fazer BD.
A ordem normal da organização de trabalho para uma BD:
1º Ideia para a história
2º Escrita do argumento.
3º Escrita do guião (com todas as indicações e descrições de vinhetas) para o desenhador converter o texto em imagem.
4º Storyboard (esboço da prancha (muito esquemático) feito pelo desenhador (às vezes é o argumentista que faz) baseado nas indicações do argumentista).
5º Layout da prancha transformação do esboço em algo mais finalizado.
6º Finalização (depende do tipo de técnicas utilizadas, mas tomando o exemplo da BD dita mainstream acontecem as seguintes etapas:
Desenho a lápis.
Passagem por cima a caneta preta (inking).
Pintar (caso seja a cores).
Balonagem (inserção de texto).
Depois enviar para a gráfica e imprimir.
Cada uma destas tarefas pode ser realizada por uma só pessoa, ou por um grupo de especialistas(p. ex: argumentista, desenhador, "inker", pintor, balonista, etc, etc).
Eu gosto de desenhar e escrever, por isso, sou capaz de realizar uma BD de raiz sozinho.
Mas descobri recentemente que é de longe mais enriquecedor trabalhar em equipa.
1º a troca de experiências e ideias é por si uma mais valia.
2º o trabalho corre mais depressa, pois há sempre alguém que é mais eficiente numa tarefa que outro.
E assim, aposta-se na especialidade de cada um.
3º cria-se a capacidade de saber lidar e aceitar as diferentes opiniões.
Resumindo, trabalhando em grupo permite-nos crescer como pessoas e como artistas.
E como é que esse trabalho pode ser realizado?
1º Através de uma boa comunicação entre os elementos. Internet (mails, chats), telefone, reuniões físicas, tudo serve.
2º É importante ter um plano de trabalhos, distribuir tarefas, estabelecer metas a atingir e prazos a cumprir.
Para além da criação da BD em si, é necessário estabelecer contactos com o meio Bedéfilo (editores, consumidores, distribuidores, etc).
Para isso, é importante participar no máximo de eventos sobre BD realizados no país, nomeadamente, festivais de BD e exposições.
É igualmente fundamental ter boas relações com os lojistas especializados em BD, pois são eles que nos dão maior apoio nas vendas (pois muitas vezes, são nosso amigos e facilitam-nos as coisas, isto no caso da edição de autor).
Caso não haja dinheiro para edição de autor, é necessário criar um ficheiro de apresentação do projecto (bem detalhado) para enviar a uma editora.
Antes de se dar este passo, é fundamental saber qual a política editorial de cada casa, para determinar se esta vai de encontro à filosofia defendida ou expressa na BD realizada.
Há muitos mais conselhos que podem ser dados.
Deixo aqui algumas sugestões de leitura para aprofundar conhecimentos:
http://www.eyrolles.com/Loisirs/Livre/la-creation-d-un-univers-de-fiction-9782212120769
http://www.eyrolles.com/Loisirs/Livre/l-ecriture-du-scenario-9782212121186
http://www.fwbookstore.com/product/714/163
http://www.wizarduniverse.com/apr062810.html
http://www.vidatech.fr/jecris_un_bd.html
Caso queiram experimentar a arte digital (de longe mais barata e rápida) têm aqui uns programas de desenho grátis:
http://www.artweaver.de/index.php?en_version (este mistura algumas das capacidades do photoshop com painter IX)
http://www.gimp.org/ (outro programa gratuito para desenhar).
http://sketchup.google.com/ (este permite fazer objectos em 3D, ideal para construção de cenários como cidades).
http://www.ambientdesign.com/ (este programa é pago mas bastante barato se tivermos em atenção as maravilhas que consegue fazer. É o predilecto de muitos artistas digitais).
Divirtam-se.
Rui Ramos
Obrigada Csa, Obirgado Rui,
Foi muito esclarecedor!
Quando chegar a casa vou ver os programas, ainda que me ajeite mais com o papel e caneta!
Abraços
Sobre o post do Rui, só tenho uma coisa a dizer: Quem sabe, sabe!!!
Posso acrescentar que a parte que se refere às vantagens do trabalho em equipa se aplica a qualquer contexto.
O meu blog está a ficar muito mais giro, desde que começaram a aparecer por cá comentários desafiadores.
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