
Ao longo da minha vida, conheci várias pessoas que se suicidaram.
Algumas eram só pessoas com quem eu me cruzava de vez em quando, mas uma delas era um amigo.
E o meu contacto com o facto de que há pessoas que chegam a acabar com a própria vida sempre me fez pensar muito. Mas não é um pensamento que permita chegar a conclusões, porque o assunto é muito complexo e tem cambiantes muito difíceis de enfrentar.
Na catequese, ensinaram-me que o suicídio era um pecado, mas não conseguiram fazer-me perceber por que razão.
A primeira vez que tive conhecimento de um caso de suicídio (tinha eu 10 anos e conhecia vagamente a pessoa, porque se tratava do empregado de um papelaria onde eu ia fazer compras), percebi que não estava mesmo nada convencida de que valesse a pena classificar tal acto como um pecado e votar a pessoa à condenação eterna. Pensei sobretudo em como devia ser grande o sofrimento daquela pessoa, para a levar a enfrentar voluntariamente algo que me inspirava um profundo terror: a MORTE.
Infelizmente, entretanto, conheci outros casos, em idades diferentes da minha vida, e vejo o suicídio como uma capitulação.
Mas não com a intenção de condenar seja quem for. Quem sou eu para julgar os outros!
E continuo a pensar no sofrimento associado a tal situação.
Sofrimento da pessoa, que se encontrou num tal desespero que sentiu que ninguém a podia ajudar. [Todos nós vivemos momentos assim, em que nos parece que o mundo está vazio para nós. Só a esperança de encontrarmos algo ou alguém que nos ajude nos sustem. Enquanto aguardamos, cerramos os dentes e esperamos que o desespero passe. E se não conseguirmos aguentar?]
Ou pode acontecer que a pessoa até saiba que alguém a pode ajudar, mas não se sinta capaz se assumir perante os outros a fragilidade que a levou àquele desespero. [Há dias, numa entrevista num jornal, um profissional da área da saúde mental focava este aspecto, sublinhando o facto de que, muitas vezes, as pessoas enfrentam melhor os seus "fantasmas" diante de alguém que está de fora.]
Pode ainda acontecer que a pessoa nem sequer seja capaz de assumir perante si própria a fragilidade que a atormenta. [E nem precisa de ser algo condenável. Aliás, o que é condenável, como todas as coisas na vida, depende da perspectiva adoptada.]
Sofrimento também da família e dos amigos, que podem sentir imensas coisas: dor, pela perda de um ente querido; desespero, por não terem conseguido ajudar; raiva, quando vêem no acto uma última tentativa de agressão de que eles são vítimas; inclusive, podem sentir-se traídos por a pessoa não ter optado por procurar o seu apoio.
Sem comentários:
Enviar um comentário