terça-feira, 17 de junho de 2008

Do suicídio



Ao longo da minha vida, conheci várias pessoas que se suicidaram.
Algumas eram só pessoas com quem eu me cruzava de vez em quando, mas uma delas era um amigo.
E o meu contacto com o facto de que há pessoas que chegam a acabar com a própria vida sempre me fez pensar muito. Mas não é um pensamento que permita chegar a conclusões, porque o assunto é muito complexo e tem cambiantes muito difíceis de enfrentar.
Na catequese, ensinaram-me que o suicídio era um pecado, mas não conseguiram fazer-me perceber por que razão.
A primeira vez que tive conhecimento de um caso de suicídio (tinha eu 10 anos e conhecia vagamente a pessoa, porque se tratava do empregado de um papelaria onde eu ia fazer compras), percebi que não estava mesmo nada convencida de que valesse a pena classificar tal acto como um pecado e votar a pessoa à condenação eterna. Pensei sobretudo em como devia ser grande o sofrimento daquela pessoa, para a levar a enfrentar voluntariamente algo que me inspirava um profundo terror: a MORTE.
Infelizmente, entretanto, conheci outros casos, em idades diferentes da minha vida, e vejo o suicídio como uma capitulação.
Mas não com a intenção de condenar seja quem for. Quem sou eu para julgar os outros!
E continuo a pensar no sofrimento associado a tal situação.
Sofrimento da pessoa, que se encontrou num tal desespero que sentiu que ninguém a podia ajudar. [Todos nós vivemos momentos assim, em que nos parece que o mundo está vazio para nós. Só a esperança de encontrarmos algo ou alguém que nos ajude nos sustem. Enquanto aguardamos, cerramos os dentes e esperamos que o desespero passe. E se não conseguirmos aguentar?]
Ou pode acontecer que a pessoa até saiba que alguém a pode ajudar, mas não se sinta capaz se assumir perante os outros a fragilidade que a levou àquele desespero. [Há dias, numa entrevista num jornal, um profissional da área da saúde mental focava este aspecto, sublinhando o facto de que, muitas vezes, as pessoas enfrentam melhor os seus "fantasmas" diante de alguém que está de fora.]
Pode ainda acontecer que a pessoa nem sequer seja capaz de assumir perante si própria a fragilidade que a atormenta. [E nem precisa de ser algo condenável. Aliás, o que é condenável, como todas as coisas na vida, depende da perspectiva adoptada.]
Sofrimento também da família e dos amigos, que podem sentir imensas coisas: dor, pela perda de um ente querido; desespero, por não terem conseguido ajudar; raiva, quando vêem no acto uma última tentativa de agressão de que eles são vítimas; inclusive, podem sentir-se traídos por a pessoa não ter optado por procurar o seu apoio.

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