sábado, 7 de junho de 2008

Ode ao gato - Pablo Neruda


Também ele!


Ode ao gato

Os animais foram
imperfeitos, compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo o gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até aos seus olhos de ouro...

Sem comentários: